Neste dia 4 de setembro de 2016, Madre Teresa de Calcutá foi canonizada pela Igreja Católica. Glória a Deus e benção sobre o nosso combalido mundo!
Já escrevi algumas vezes sobre o que é um santo, mas quero relembrar aqui e falar um pouco sobre isso antes de falar sobre a santa de Calcutá. Um santo pode ser definido de várias formas. A mais simples é: todo aquele que está no céu! A segunda definição é a definição teológica: todo aquele que, vivendo e morrendo em Cristo, exibindo as virtudes morais e as teológicas da fé, esperança e caridade, e morrendo sem pecado mortal, será recebido por Deus no céu.
Essa última é uma definição quase legalista, ainda que eu tenha tentado expandi-la para ser menos seca. Toda pessoa que morre e é recebida por Deus no céu é um santo. Há muito mais santos no céu do que nós sabemos. O título dado na Terra não é uma promoção. Ninguém passa, de fato, a ser santo naquele momento. É apenas um reconhecimento da Igreja! Essas pessoas que recebem o título de santos na Terra são pessoas que reconhecidamente se destacaram entre a multidão por exuberantes virtudes e fé. São pessoas que a Igreja, por aclamação ou um longo e difícil processo, reconhece a santidade para que o povo de Deus possa venerá-los com a certeza de que eles estão no céu.
Ou seja, eles não são os únicos, e nem são promovidos pela Igreja Militante (a Igreja na Terra). Eles já fazem parte da Igreja Triunfante (a Igreja no céu), e aqui são reconhecidos para que seu exemplo de vida e fé possa ser um modelo e uma benção para todos.
O fato é que o santo é sempre contracultural! Alguém que abraça virtudes e atitudes completamente estranhas ao mundo em que vive. Não é à toa que muitas vezes eles são perseguidos, odiados, tidos como loucos, caluniados e martirizados. O santo enfrenta o mundo da forma que o mundo mais odeia, exibindo virtudes e nadando contra a corrente. Apesar de tudo, o santo é um amante do mundo. Ele ama pelo que o mundo deveria ser, e exibe esperança quase irritante em quem o mundo forçou o pessimismo no coração.
O santo faz o que é sagrado mesmo quando todos dizem que não é a solução prática.
O santo é um pecador como qualquer outro. Em geral, a diferença é que ele sabe que ele é um pecador! Sabendo disso, ele luta pela melhora pessoal e pelo amor de Cristo. E para que todos conheçam esse amor!
O grande Peter Kreeft disse certa vez que o santo é alguém que escala o monte mais alto ao mesmo tempo que escorre como água para os lugares mais baixos, como Calcutá!
Foi isso que fez a diminuta albanesa chamada Agnes Gonxha Bojaxhiu. Aos 18 anos ela se juntou às Irmãs de Loreto (O Instituto da Beata Virgem Maria), acreditando que sua vocação era ensinar. Depois de contrair tuberculose, ela foi mandada descansar para se recuperar. Durante a recuperação, ela ouviu o que dizia ser um chamado de Deus para deixar o convento e viver entre os mais pobres entre os pobres. Em 1950, vivendo agora sob a orientação do Arcebispo de Calcutá, Madre Teresa funda a congregação das Missionárias da Caridade.
Em 1952, em reconhecimento pelos seus feitos, o governo indiano dá uma casa para a congregação continuar o trabalho com os pobres e abandonados. Essa casa abrigaria toda e qualquer pessoa abandonada que as irmãs pudessem encontrar e tratar. Pobres, leprosos, crianças abandonadas pelos pais, doentes físicos ou mentais, portadores de AIDS, todos eram recebidos e tratados de forma humana. Hoje a congregação está presente em dezenas de países.
Madre Teresa, como eu já comentei em outro artigo, foi uma defensora ferrenha do direito à vida. Colocando o dedo na cara dos membros da ONU, condenou o aborto e facilitação ao mesmo e aos métodos anticoncepcionais em detrimento do planejamento familiar responsável e do uso de métodos como o Billings (Método de Ovulação Billings). Não era o que eles queriam ouvir. Não era o que o mundo secular queria ouvir. É outra marca de um santo.
Seus críticos são marxistas como Hitchens, Prashad, Tariq Ali e outros. Gente que cumpre o velho lema do “acuse-os do que você faz”. Eles têm uma agenda marxista a cumprir, e acusam a albanesa que cuidava dos pobres vivendo uma vida miserável de ser um agente político. Seria ridículo se não fosse cada vez mais repetido. A imprensa já nem mais dá bola para a vida da santa. Já é toda formada de tablóides atrás da “polêmica do dia”. Pouco importa se isso é uma sujeira sem sentido que tenta diminuir o nome de alguém que viveu uma vida inteira de uma forma que eles não aguentariam dois dias. Hitchens, que cumpriu seu papel de desinformante, era um radical fanático que aceitava qualquer papel para desacreditar a Igreja. Seu livro sobre Madre Teresa é desrespeitoso da capa até o fim. Em um debate com Dinesh D’Souza, ao ouvir que Madre Teresa recolhia e abraçava leprosos, Hitchens grita alto: “Eca!”, para delírio de uma platéia que troca sua humanidade por se sentir no clube dos (pseudo)’racionais’, esse produto irracional que ele e outros tentam vender.
Tudo isso é apenas mais uma prova do valor de Madre Teresa. O santo sempre passa por isso. Quanto mais virtuoso e destacado entre a multidão, mais ele será atacado. Não faltam cretinos para se candidatar a ser o sujeito que vai escrever uma biografia polêmica, ou se passar ao papel ridículo de dizer que está só questionando e que ‘todo questionamento é válido’. Seria válido se a pessoa se desse ao trabalho de ver, in loco, o que era o trabalho; saber quem era a pessoa; entender o que move de verdade uma pessoa como ela. Até lá, é só conversa de idiota-útil querendo aparecer, sem se importar com os fatos ou com a dignidade alheia.
Por falar em dignidade, é esse o ponto que diferencia o cristão do marxista. É enxergar Deus no próximo e tratar o pobre como um irmão, e não como um instrumento político.
Madre Teresa dizia: “Ser rejeitado, não amado, abandonado à própria sorte, esquecido… é uma pobreza muito maior do que não ter algo para comer”. Ela dava comida, sim. Além de remédio e moradia. Mas ela dava coisas muito mais importantes: amor e o carinho para que a pessoa se sentisse digna novamente. Digna como um filho de Deus e nosso irmão merece.
A albanesa do tamanho de uma criança viveu pelo próximo. Incansável, ela se doou até o último instante. Quando viajava pelo mundo, ela dava suas ‘escapadas’ pelas ruas para levar algum conforto aos pobres locais. Um de seus biógrafos relata que em uma das visitas dela ao Vaticano, ele encontrou Madre Teresa muito cansada. Perguntada se estava doente, ela negou. Mais tarde, uma de suas colegas contou que ela havia passado a noite toda pelas ruas de Roma, visitando os abandonados. Essa era Madre Teresa! Uma vida inteira dedicada a quem o mundo secular faz questão de tratar como um número e depois rejeitar.
Madre Teresa disse, com a sabedoria de quem vive a dignidade divina, que o aborto é o grande destruidor da paz. Se uma sociedade faz isso com uma criança indefesa, pode fazer com qualquer um. Não pode haver dúvida sobre isso! Se o homem não reconhece a sua infinita dignidade como filho de Deus, ao ponto de assassinar um bebê por qualquer motivo, nada pode impedir os males da sociedade.
Em seus últimos dias, Madre Teresa experimentou uma “noite sombria da alma”, um nome dado por São João da Cruz em um poema em que descrevia esse processo difícil. É um sentimento terrível de vazio espiritual, de abandono e de tristeza. Mas é um tratamento purgativo que costuma atacar as pessoas em uma bela transição espiritual. Muitos santos passaram por isso no final de suas vidas. Assim como quando nos encontramos em um momento terrível de tentação, ou mesmo já na lama do pecado mais baixo. Com fé, amor e a ajuda de Deus nós saímos disso ainda melhores. Madre Teresa, como outros antes dela, saiu para a santidade.
A luta de Madre Teresa foi contra a indignidade. Ela dizia: “A fé em ação é o amor, e o amor em ação é servir”. Que possamos servir a Deus e ao próximo com pelo menos uma fração da fé e do amor dessa grande santa. Uma santa que vai iluminar o mundo para sempre. Uma santa que é tão importante hoje e para o futuro que é cada vez mais atacada. E possamos servir sorrindo. Sua Santidade, o Papa Francisco, disse durante a canonização da santa de Calcutá: ” Carreguemos o seu sorriso em nossos corações, e entreguemos a todos aqueles que encontrarmos em nossa jornada, especialmente os que estão sofrendo”. É disso que precisamos!
Durante o Sermão da Montanha, Jesus disse que não devemos demonstrar que estamos fazendo um sacrifício (Mt 6, 16-18). Em outras palavras, ele nos manda fazer o que Madre Teresa fazia: sorrir! Poucas pessoas na história viveram como ela viveu, no meio da mais terrível pobreza e insalubridade, lutando pelos nossos irmãos abandonados. Porém, ela nunca deixou de sorrir.
Santa Teresa de Calcutá, padroeira das Missionárias da Caridade e do Dia Mundial da Juventude; símbolo da caridade e do amor ao próximo no século XX e para sempre, olhai por nós!
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista.