Quando se fala na Quaresma, o aspecto do sacrifício é sempre enfatizado. Com toda a razão! Afinal, é o momento de relembrar o tempo de Cristo no deserto, passando por enormes sacrifícios para reparar a antiga Aliança e se preparar para o Seu ministério.
Existe uma tendência moderna de relacionar sacrifício com tristeza. Somos fracos de corpo, mente e espírito. Fracos porque sozinhos não conseguimos vencer o mundo. Somos fracos, mas não necessariamente frágeis. Essa fragilidade que o mundo moderno quer nos impôr se reflete na relação mental que fazemos entre certos aspectos da vida cristã e a palavra que a modernidade tanto adora: ‘negatividade’. Isso inclui qualquer dificuldade (ou aparente dificuldade), algo que não é mais encarado como momentâneo, muito menos como algo necessário para se alcançar uma vida melhor depois. Não! Para o mundo moderno, toda dificuldade, tudo o que parece estar contra você, toda ‘negatividade’, deve ser evitada. Daí para se entender o sacrifício pessoal como algo ruim foi um pulo.
Não existe redenção sem sacrifício. Tampouco existe felicidade sem conhecer os momentos difíceis da vida. Isso exalta o sacrifício, não o diminui. Da mesma forma, nossos pecados, o ponto mais baixo da nossa história, não podem ser eliminados sem sacrifício. No fim, apenas o sacrifício do Cordeiro de Deus pôde retirar o pecado do mundo. Porém, sem o nosso sacrifício pessoal, nem ao menos podemos reagir contra os nossos pecados e dizer o ‘sim’ a Deus na forma de fé e boas obras. Porque Deus sabe que atrás das palavras pode não haver nada, mas as boas obras são fruto de uma verdadeira conversão; são a fé escancarada. E a nossa conversão ao Seu amor é o que Ele quer!
Se o sacrifício é necessário para um dia melhor, então, a Quaresma não pode ser um período de tristeza. Como cristãos, temos que enxergar um sacrifício, que sabemos que vai nos levar até a vitória final, com imensa felicidade.
O que nos move para enxergar a alegria do sacrifício salvífico são as três virtudes teologais: fé, esperança, e caridade.
Temos fé em Jesus Cristo. Passamos o momento de sacrifício com esperança no amanhã glorioso no Senhor. E como vimos no artigo anterior (https://www.papista.com.br/2017/03/02/sao-joao-crisostomo-jejum/), nosso sacrifício, pequeno como for, tem que se refletir em caridade.
A Quaresma é o tempo em que as virtudes teologais são exaltadas, não deixadas de lado por um momento para dar lugar à penitência pela penitência.
As virtudes essenciais à vida cristã estão intimamente ligadas à Quaresma. É no tempo da provação que a fé em Deus e na salvação em Jesus Cristo se prova e reforça. A esperança é a marca do cristão em todos os momentos e na Quaresma temos a esperança de atravessar o deserto e encontrar a Glória de Deus. A caridade é o resultado natural da vivência das duas outras virtudes.
A profunda e inseparável união entre a Quaresma e as virtudes teologais são a prova de que a Quaresma é um tempo de felicidade. Nossas dores e dificuldades nos fazem melhores.
O tempo da provação é também o tempo da conversão. Uma profunda conversão em Deus que nos permite testar nossa fé e passar pelas dificuldades para sairmos melhores, mais fortes e mais próximos da eternidade no amor de Deus.
Caminhamos na esperança por ter fé no Verbo feito carne. Ele que veio ao mundo para morrer por nós. A caridade é o sinal do amor em Cristo e é depois do sacrifício quaresmal que melhor enxergaremos o Senhor em todo irmão em dificuldade. Será a hora de dizer: passamos pelo sacrifício! Passamos pela dificuldade! É a hora de transmitir essas bênçãos de amor ao próximo!
Que a Quaresma seja o tempo da felicidade e da fidelidade ao Senhor para todas as famílias. O Senhor já vem do deserto com a promessa do Reino de Deus!
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista.