O quinto dito de Cristo entre os seus últimos sete foi: “Tenho sede” (Jo 19,28).
É de se esperar que alguém preso, torturado e crucificado sinta sede, fome e desespero. Mas a sede do Senhor é diferente da nossa. É uma sede de almas!
Em primeiro lugar, o Senhor mais uma vez acompanha o Salmo 22(21) quando diz que tem sede. É também o cumprimento do que é cantado no Salmo 69(68),21(22). Aqui vale entender o contexto do Salmo 69. Há uma grande sequência de salmos de lamento no livro II dos Salmos (Sl 42-72). O Salmo 69 descreve a humilhação do rei em um paralelo à situação do povo de Deus. É natural que Jesus o entoe como uma forma de lembrar que o destino que Ele abraça é um sinal da nossa degradação.
Por outro lado, o Salmo 69 também é um salmo de ‘Todah’, um salmo de Ação de Graças, que exprime a esperança messiânica quando diz em seu versículo 35(34), como em toda a sequência final, que salvará Sião e reconstruirá as cidades de Judá. Ou seja, a expectativa messiânica é a da reconstrução do reino. A diferença é que o verdadeiro Reino não é deste mundo! Ao citar esse salmo, o Senhor nos quer atentos ao cumprimento messiânico.
Em segundo – e mais importante – lugar, ao dizer “tenho sede”, o Senhor sinaliza o cumprimento do que foi iniciado no ‘quarto de cima’, a instituição da Eucaristia. Ele está pronto para beber o Cálice da Consumação! O mesmo cálice que Ele havia indicado que só beberia quando o Reino viésse. Dessa forma, o Senhor indica que o Reino chega quando o Rei vence, e Sua aparente derrota é Sua maior vitória.
O soldado romano o dará vinagre (vinho amargo), cumprindo o Salmo 69 e o que o Senhor havia anunciado sobre o cálice. O soldado erguerá o vinagre até o Senhor em um ramo de hissopo. Isso não é mero detalhe narrado por São João, é o cumprimento messiânico em toda a sua glória! Na Páscoa da Antiga Aliança, o Senhor ordenou que o sangue do cordeiro fosse passado nas portas com um ramo de hissopo (Ex 12,21-23). Sem que a Páscoa fosse cumprida em seus mínimos detalhes, os primogênitos de Israel seriam mortos. Cumpridas todas as ordens, o povo seria libertado.
A sede do Senhor é o sinal da nossa vitória. A Páscoa do Senhor nos liberta da pior escravidão, a do pecado. A execução se transforma em sacrifício salvífico. A carne do Cordeiro deve ser comida (Ex 12,8), ou a Páscoa da salvação não está completa.
Caminhemos confiantes para a Eucaristia, a Páscoa da Nova Aliança. O Senhor tem sede de receber as nossas almas, criadas à Sua imagem e semelhança, de volta à família divina.
Tenhamos também sede de viver a vida cristã em sua plenitude, de forma sacramental e na caridade.
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista