Em teologia bíblica, a Tipologia é parte fundamental da exegese bíblica. É o estudo dos ‘tipos’ (τύπος), que são pessoas ou situações que prefiguram outras. Ou seja, é parte do estudo da relação do Antigo com o Novo Testamento. Sem isso, não se pode entender a Revelação Bíblica adequadamente.
Os próprios evangelistas, inspirados por Deus, usam abundantemente a tipologia para demonstrar como, em Cristo, tudo se cumpriu e elevou. Um exemplo disso é a constante descrição de Cristo como um Novo Davi, ou um Novo Moisés etc.
Tudo se cumpre em Cristo. Mesmo assim, tipos podem prefigurar mais de uma pessoa ou situação. Ou seja, algo pode ser cumprido parcialmente em um momento, ainda que seja cumprido perfeitamente em Cristo ou em algo relativo a Ele. Por exemplo: quando Moisés diz que Deus fará surgir um profeta como ele, isso se cumpre de diversas maneiras:
Em sentido mais geral, em todos os profetas. Em sentido mais direto, se cumpre no profeta Jeremias (veremos isso em outro artigo). Por fim, se cumpre plenamente em São João Batista que anuncia o Senhor. Dessa forma, se cumpre e aperfeiçoa em Cristo.
Vimos no primeiro artigo desta série como São João usa uma expressão que quer dizer que o Verbo se fez carne e “tabernaclisou” (Jo 1,14). Esse ‘tipo’ do Tabernáculo se cumpre, finalmente, em Cristo, mas não apenas em Cristo. Ou não apenas diretamente nEle.
O Tabernáculo é um tipo que também se cumpre na Virgem Maria. Jesus é o Pão da Vida (Jo 6)! O Pão da Vida, que deve ser comido para se tenha vida (Jo 6,51-58). Ele é o novo Maná do Céu. A ordem para que se coma a Sua carne é literal: quando Jesus diz “se não comerem”, Ele usa a expressão ‘phago’ (φάγω), de onde vem a palavra ‘fagocitose’, que aprendemos no colégio ser a quebra de partículas sólidas. Para dizer “quem come a minha carne”, ele usa a expressão ‘trogo’ (τρώγω), que é, literalmente, mastigar, triturar com os dentes!
Tal coisa não poderia ser outra coisa senão uma ordem literal para que se comesse a Sua Carne. Essa é a Eucaristia, o Novo Maná.
O Pão da Vida veio dos Céus para nascer da Virgem Maria. O Pão da Vida, que habitou (se tabernaclisou) entre nós, habitou antes no devido Tabernáculo (Sl 46,4), como veremos na Liturgia da Festa da Natividade de Nossa Senhora. Ela é o Tabernáculo santo que abrigou o Pão da Vida. A primeira habitação do Senhor Encarnado.
Essa imagem tipológica é especialmente importante no Natal, quando celebramos o nascimento do Senhor e enxergamos mais claramente a Sua Glória através do ventre da Virgem Santíssima, Tabernáculo do Altíssimo. Porém, eu chamo atenção especial para a Festa da Natividade de Nossa Senhora. Como veremos, todo dia é dia de celebrar Nosso Senhor, o Pão da Vida, através de Maria, o Tabernáculo do Senhor.
Sempre na esperança que, para além de qualquer estudo, esse tipo de imagem reforce a nossa devoção; faça florescer nossa fé em cada momento da Liturgia; e enriqueça a nossa adoração ao Senhor através da Sua e nossa Mãe, Maria Santíssima, Tabernáculo do Senhor.
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista