A Liturgia da terça-feira da primeira semana da Quaresma traz uma reflexão sobre o poder da oração. Se alguém tinha dúvida, a primeira leitura, de fato, reafirma o poder da oração ensinada no Evangelho, o Pai Nosso.
O ponto desta reflexão é, talvez, alcançar quem duvida que sua oração tenha algum valor. Quem sabe, aquele que se pensa distante demais, ruim demais, caído demais, para ser ouvido por Deus. Lembre-se: nossas orações são ouvidas e a Palavra de Deus para nós tem poder.
Deus quer de nós um coração contrito, uma postura de arrependimento e vontade de mudar. Nem sempre Ele nos dará o que pedimos, mas Ele sempre nos dá o que precisamos. Então, nosso melhor exercício de crescimento espiritual é tentar ouvir e conformar nossa vontade à do Pai. Essa vontade é que, uma vez nossa vida estando a ela harmonizada, terá poder certo.
Qual é o contexto da profecia de Isaías? Logo após a proclamação da salvação que viria através do Servo Sofredor, cuja última ‘canção’ (Is 53) não deixa dúvidas sobre quem seria, Isaías proclama oráculos sobre a certeza da ação divina. Ninguém deveria ter dúvidas mas, no fundo, esse é o problema humano. Nós duvidamos, fraquejamos, voltamos a confiar no mundo e nos perdemos. Além da promessa, Deus reafirma o poder da Sua Palavra.
Isaías promete a restauração depois do exílio. Em contexto histórico, o exílio babilônico, sem dúvida. Na Bíblia, porém, o exílio seria eternamente uma imagem para o nosso afastamento de Deus. A desolação da solidão da vida desordenada causada pelo nosso distanciamento seria sempre descrito com imagens de um exílio. A promessa de Deus, então, é mais que certeza da volta para casa, mas de uma volta para a “Casa do Pai”.
O profeta transmite, então, o oráculo em destaque no título. Deus transmite a inevitabilidade da Sua ação na figura da chuva e da neve. Santo Tomás de Aquino, em seu magnífico comentário a Isaías, destaca a imagem como a firmeza da promessa. Afinal, chuva e neve são não apenas “atos de Deus” mas, mesmo se vistos com um olhar puramente humano, são símbolos das forças incontroláveis pela ação humana. O Doutor Angélico encadeia duas passagens para ilustrar a Palavra que não retorna vazia (Sb 1,11; Os 6,3). A citação de Oséias, em contexto, é curiosa, já que talvez ilustre especialmente como o Verbo está em ação desde sempre. Sem dúvida, mais uma razão para fé nas promessas de Deus.
Ao longo do tempo, os comentaristas notaram também que a imagem se completa com as “sementes” e o “pão”, sinais de que a Palavra frutifica. Me parece inevitável lembrar que o Senhor garantiu que Suas palavras são “Espírito e vida” (Jo 6,63). Exatamente na conclusão do “discurso do Pão da Vida”.
Uma coisa, porém, deve ficar clara. Deus precisa encontrar em nós uma resposta de fé para agir. Não porque Ele não tem poder, mas porque Ele nos ama tanto que nos permite escolher. Como eu sempre lembro em minhas aulas e escritos, só existe amor se você puder escolher não amar, mas escolher o amor. Ou seríamos como robôs programados por Deus. Só que Ele quer que aceitemos Seu amor.
Essa é a image da “Palavra que vai e não volta vazia”. As Escrituras nos falam sobre a antiga imagem do poder das palavras. Não é “eisegese”, algo forçado no texto, mas boa exegese, o que retiramos do texto (interpretação responsável). Nós sabemos que existia a idéia de que não só um “bom pensamento”, mas mesmo uma oração não correspondida ‘voltava’. Uma das possíveis traduções para um verso do Salmo 35(34) diz “minha oração retorna ao meu peito” (Sl 35,13). Esse é um salmo de lamento. Nesse trecho em particular, o salmista descreve como ele chegava a rezar por quem hoje o ataca. A ambiguidade parece proposital. Ao mesmo tempo que ele poderia “chorar de cabeça baixa sobre o peito”, sua “oração voltava ao seu peito” porque não encontrava resposta no próximo.
Note que, na Bíblia, um cumprimento é mais do que mero “olá”. É uma pequena oração, um desejo real de algo bom. Quando se desejava “paz” era realmente o “Shalom de Deus”, a “Paz de Deus”. O poder disso, bem como o efeito da falta de boa resposta, é melhor evidenciado quando Nosso Senhor Jesus Cristo envia os apóstolos e os ensina a proclamar a Palavra desejando (espalhando) a Sua Paz. Ele mesmo afirma: “se a casa não for digna, que a sua paz volte a vocês” (Mt 10,12-13).
A Palavra do Senhor vai e não volta vazia. Ela tem o poder de transformar nossas vidas. Que ela encontre em cada um de nós um coração mais disposto a viver a vontade do Pai. Essa é a resposta que ela precisa para fazer o efeito que ela quer e pode fazer em nós: a alegria da Paz de Cristo!
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista