Em ‘Lc 7,31-35’, em meio a muitas acusações, Nosso Senhor Jesus Cristo responde aos acusadores com alusões; comparações que expõe a hipocrisia dos acusadores sob a luz não só dos fatos históricos, como também das Escrituras; e uma citação proverbial: “Mas a Sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”.
A frase é claramente proverbial, mas não é uma citação exata de nada do AT. Nesse sentido, a sabedoria é representativa. Ela engloba e resume tanto a Sabedoria transmitida na Revelação, quanto joga nova luz sobre a Lei na Nova Aliança.
A ‘Senhorita Sabedoria’ do Antigo Testamento era o caminho da vivência da Lei de Deus como caminho para a Paz eterna. Mais do que instrução prática, a Sabedoria era uma pessoa. Melhor ainda, a sabedoria era a união perfeita com Deus. Não à toa, essa busca é exemplificada como algo que termina na união matrimonial, a visão que se tornaria mais clara no Apocalipse com o fim de tudo no Banquete Nupcial do Cordeiro.
São Mateus descreve a citação como “Sabedoria foi justificada por suas obras”. Para o Evangelista, o sentido é claramente do que os filhos de Deus, ao aceitar a Aliança, produzem como testemunho da Sabedoria da vivência do Evangelho. Para São Lucas, no entanto, a citação é mais enigmática.
Muitos biblistas tentam forçar a comparação automática com a imagem do AT, ou harmonizar com a visão de São Mateus, mas o resultado é um tanto duvidoso. Obviamente, em sentido teológico amplo, as visões não podem ser contrárias. Uma vez definido isso, no entanto, o espaço entre “não-contrariedade” e “harmonização perfeita” é enorme.
Entre forçar a interpretação para igualar as citações e buscar complementaridade, eu fico com a segunda opção. São Lucas nos oferece uma visão complementar. Nem contrária, mas não idêntica. Nesse caso, duas opções me parecem mais seguras:
- o grande Biblista francês, o Pe. André Feuillet P.S.S. (sulpiciano), via a solução mais simples e direta como a melhor. Nesse caso, a Sabedoria Divina é o plano de Deus para nós que é justificado por aqueles que o aceitam e vivem em testemunho. Essa é a opção mais direta e literal a ser retirada do texto.
- a segunda opção não só oferece uma interpretação linguística diferente, como inverte o resultado. A sabedoria se justifica ‘apesar’ (ou contra) os que a rejeitam. Nesse caso, no entanto, apenas o sentido complementar de ‘todos os seus filhos’ como tanto os que aceitam, quanto os que rejeitam, faz sentido.
As duas opções não são necessariamente excludentes, já que o fato de haver quem rejeite confirma a sabedoria dos que aceitam. No entanto, só existe testemunho real dos que aceitam a Sabedoria. Além disso, apenas os que aceitam a Palavra se tornam realmente filhos ao entrar para a família divina em comunhão com Cristo Jesus. Não é ‘filhos’ genericamente, como todos os convidados à relação (catolicidade), mas os filhos como os que já aceitaram o convite.
Em outras palavras, a Sabedoria de Deus será provada ao mundo através da Comunhão e testemunho dos que a aceitem e encontrem Paz no Senhor. Nossa missão é clara: aceitar Jesus Cristo como a Sabedoria Viva; aceitar o convite para ser parte da família divina; e provar, justificar, ao mundo que a Paz de Cristo é justificada na vivência cruciforme de uma alegria que não é deste mundo.
Em Cristo, entregue à proteção da Virgem Maria,
um Papista
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